quinta-feira, 24 de junho de 2010

NATHALIA ...


Ela me lembra gargalhadas. Deita ao meu lado e me abraça o pescoço com as duas mãos. Agora deu pra ser metida a artista. É só fechar os olhos e sinto seu cheiro. Aqueles olhinhos de ternura, brilhantes, curiosos e vorazes. Deu pra dizer que quer ser bailarina. Vê se pode. Acha que sou super-heroína e me chama de tia amiga com uma intimidade cortante. Quer me acompanhar. Me mostra sua biblioteca particular e me pergunta sobre coisas que não sei dizer. Invento umas mirabolâncias e ele acha tudo incrível. Anda preocupada porque está falando errado. Mas o inglês pronunciado precariamente é tão bonito. Sinto dor no peito ao ver o pé dela crescer. Já não consigo pegá-la no colo. Mas continuamos jogando almofadas no chão, edredom e cabana. Leio as histórias de Princesa. Inventamos música. Criamos receita. Nunca imaginei que poderia ser a melhor companheira que terei ao longo da estrada. Vê-la criar asas me causa comoção e me emociona. Mas dá medo. Às vezes a levo pra escola e nos perdemos no volume alto da musica cantada por nós, nos divertimos e não sentimos o trânsito. Em saber que o mundo tá aí e que ela vai se servir dele. Em posições opostas. Força motriz que desafia o vento. É bom contar-lhe histórias. Deu de ficar roendo unha enquanto assiste TV. Assistimos juntas a filmes e é minha fã enquanto danço a música do Panda. Ela me dá saudade da infância com suas conclusões definitivas. Suas palavras inventadas no seu glossário particular. Cuble em vez de clube. Tesse em vez de tivesse. Calina em vez de Carolina. Aligenina em vez de alienígena... A cada segundo amo mais. E talvez seja o único amor sincero que sinto hoje em dia. Em via de mão dupla. Estivemos revendo Partimpim esse fds. E descubro, vejam só, que a música preferida dela não é mais ligliglé. Agora gosta de Poeta aprendiz. De Vinícius. É ou não é pra amar incondicionalmente.

Para Nathalia, com todo o amor que existe no coração torto da Tia Ro