terça-feira, 29 de junho de 2010

A LOIRA DO BANHEIRO


Além de filmes de terror, minha infância foi assombrada por brincadeiras e histórias sinistras que as crianças insistem em cultivar. Sei de duas, em especial, que sofreram alguma espécie de intercâmbio entre a molecada do país inteiro e hoje marmanjos COM MAIS DE 30 anos de vários lugares do Brasil são capazes de lembrar alguma versão de ambas.

A mais famosa lenda é da Mulher do Banheiro, ou Loira do Banheiro, que foi como conheci. Trata-se sempre de uma criatura do sexo feminino que ataca crianças no banheiro. Lembro perfeitamente do dia em que uma das versões chegou à nossa escola. Eu tinha sete anos e um pequeno imbecil contou de uma moça que havia sido soterrada no banheiro de uma escola, após um desabamento. E porque seu corpo nunca havia sido encontrado, ela carregava a maldição de matar meninas (essa história era na medida para assustar garotinhas) enquanto as coitadas faziam seu tranqüilo xixi. Ela poderia aparecer sem nenhum convite ou respondendo a um complexo processo de chamado: era preciso dar três descargas, seguidas de três gritos e três pancadas na porta. Não riam, na minha cabecinha de passarinho isso fazia um super sentido.

Daí que na escola, com outras meninas, eu quase não tinha medo. Quase. A gente testava o processo de chamar a Loira just for fun e, por via das dúvidas, só usávamos o banheiro em grupo. Mas em casa… vocês não tem idéia do meu sufoco. Eu segurava o xixi até quase não suportar mais, e arrastava minha irmã mais velha para o banheiro por anos para não ficar sozinha. Fazia o xixi mais rápido da história do universo e NÃO dava descarga nem por decreto: vai que a Loira se confundia e achava que eu tinha dado três, ao invés de uma única descarga?

Por anos isso me amedrontou. Juro que tentava racionalizar coisas tipo ‘como ela respira dentro da privada?’, mas gente, eu tinha SETE ANOS! Era tenso, muito muito tenso.

Outra brincadeirinha TOSCA era a do copo. Numa mesa, dispunhas todas as letras do alfabeto em círculo e mais dois cartões escritos ‘sim’ e ‘não’, com um copo cheio d’água ao centro disso tudo. Aí rezava-se não sei quantos padres-nossos e teoricamente um espírito baixava no copo. Ele responderia às perguntas movimentando-se sozinho em direção às letras e aos cartões ‘sim’ e ‘não’. Lembro de ter começado essa brincadeira várias vezes, mas a gente nunca conseguia que nenhum espírito aparecesse. Realmente assustador era ouvir as histórias que todo mundo contava, sobre casas amaldiçoadas para todo o sempre por espíritos que apareciam em brincadeiras do copo e gente misteriosamente morta com cacos de vidro depois de tocar o copo numa dessas sessões. Eu ficava dias sem dormir direito, sonhando com espíritos e copos que se movimentavam sozinhos. Pior: por muito tempo tive verdadeira aversão a copos de vidro e fazia o possível e o impossível para usar só os de plástico.

Essa mesma brincadeira tinha uma alternativa que poderia feita durante a aula, em plena escola: no lugar do copo, usávamos um compasso segurado por dois colegas. E, apoiado numa folha com todas as letras e os tradicionais ‘sim’ e ‘não’, ele também seria possuído por um espírito depois de rezar não sei quanto de não sei o que. Várias foram as professoras que nos flagravam em plena atividade com o compasso e davam mais corda na história, contando de ‘casos pessoais’ que tinham ainda mais credibilidade que os nossos – afinal, elas eram professoras!

É porque Hollywood ainda não descobriu as histórias terríveis dos petizes brasileiros, porque valiam muito um filme. Mas eu garanto que não assistiria.