segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Limpeza geral de vez em quando eh bom!



Dia de faxinar a vida. Limpar a memória. Rever o passado e álbuns e livros e promessas de amor descumpridas. Compriiiiiiiiidas. Tarde vazia alheia ao futuro. Só o passado não me condena e me ronda e me liberta para ser feliz outra vez. Mentira. Já sou feliz assim. Nesse meu tempo meio doido, doído e corrompido pelo que podia ter sido e jamais será. Numa caixa encontrei uma outra eu. Tão obsoleta quanto àquele gravador, uma fita k7, a máquina fotográfica que usava filme, o celular pesadão, um relógio fora de moda. Tudo ficou para trás. Assim como os planos e sonhos e o amor. E os quilos a menos. Era tão jovem e tão bonita e tão ingênua. Sou mais interessante hoje, no entanto. E percebo como meus cabelos estão melhores, ainda que insistam em não terem anda de extraordinário, e que o sol não sacaneou ainda a minha pele, que continua macia. Hoje posso comprar mais cremes e já acredito neles. Antes os deixava na penteadeira para enfeitar. Mas o tal do filtro solar ainda não é meu melhor amigo. Continuo errando, pelo visto. E tropeço ao beber além da conta e de além da conta pegar o celular para mandar mensagens truncadas e trincadas madrugada afora. Uma boa constatação é que na gaveta não ficou minha disposição para me atirar. Ainda que o faça com mais parcimônia, sejamos bem sinceros. Mas a paixão sempre existiu e não quero desacreditar nela, desconfiar de que não seja boa. Teve época em que me apaixonava três vezes ao dia. Por homens e sapatos diferentes. Quando estou triste compro sapatos. Afinal, comprar homem dá mais trabalho... Continuo fazendo isso desde a adolescência. Freud diria que é carência paterna. Sei lá. Pode ser. Mas comprar sapatos é altamente reconfortante. Devo ter um quê de Doroty, uma apaixonada confessa por pares vermelhos e mágicos. Ou Imelda, vai saber. Hoje dei sapatos. E roupas. Que não me serviam, que não serviam pra nada. Só ocupando espaço e lembrança. Vai levar pra alguém uma nova esperança e mais uma lembrança que não mais me pertence. Achei coisas perdidas que nem sei se queria. Outras me fizeram surpreendentemente alegre. Poucas me fizeram chorar e em muitas não reconheci aquela garota. A fase é positiva para reciclar, transformar. Pegar o que tem de bom e aprimorar. E operando o milagre do desapego também decidi colocar no lixo as regras impostas, as vontades sufocadas e o não parecer. É preciso remexer no interior pra ver que não se pode ter o novo cultivando o que ainda é antigo e deveria ter ficado dentro de um livro tal qual flor desidratada. Que venha o que tiver de vir. Que aconteça o que tiver de acontecer. Que se realizem ou não os desejos mais secretos.
Um dia após o outro.
De minuto a minuto.
Respirando e suspirando a cada segundo.
Sem entraves, sem barreira,
Sem se.
Sem será.
Sem talvez.